Mucuiú, motumbá, kolofé, saravá, axé, salve, salve,
Desde o início de nossa odisseia coletiva neste momento turbulento da pandemia até os dias atuais se passaram 15 meses.
Paramos tudo o que conhecíamos de viver e do viver. Encerramos atividades fora de casa por meses, passamos a viver a família e o ambiente doméstico como se fosse algo novo – o que é no mínimo estranho para uma sociedade que defende a família nuclear acima de tudo e de todos. Não pudemos mais ter o que conhecíamos de lazer fora de casa, aprendemos, em muitos casos, a fazer nosso próprio alimento, passamos a cultuar a religião de modo diferente do que sempre fazíamos (utilizamos mais da tecnologia, com redes sociais e aplicativos para encontros virtuais) e, o mais difícil de tudo, passamos a conviver intimamente com nós mesmos.
Observamos coisas agradáveis e desagradáveis em nós. Pensamos e repensamos o que era felicidade, prazer, amizade, amor, solidariedade e sentimentos falta de uma rotina menos intensa... pois é, a vida dentro de casa se tornou mais intensa do que nossa vida de "rua".
Passamos alguns apertos financeiros, reduzimos gastos, fizemos movimentos solidários coletivos. Passamos a pensar diariamente nas necessidades e dores alheias. Vimos no sentido mais profundo cada vez mais os seres humanos e suas necessidades, em todos os âmbitos, espiritual, psíquico, emocional e físico, do que quando íamos aos rituais.
Jamais pensamos que passaríamos por tudo isto em apenas 15 meses. "Vivemos muitas vidas" em 15 meses.
Vimos que somos fortes e resilientes. Vimos que temos fé no sobrenatural como força viva em nosso interior além das incorporações.
Aprendemos muitas coisas e formas para levar a espiritualidade para dentro de nossas vidas, mas também aprendemos a ritualizar a força de nossos ancestrais e Orixá.
Aprendemos a conviver com a morte e a respeitá-la mais do que temê-la. Aprendemos a observar nosso corpo e agir forçosamente de modo preventivo a partir da ciência. Lembrando que o modo preventivo faz parte dos pressupostos da sabedoria de terreiro.
Vivemos tanto e tão intensamente – e mais uma vez digo – sobrevivermos não apenas de corpo, mas também de alma.
Tornamo-nos seres humanos mais espiritualizadxs a partir do caos. Os limites, as linhas divisórias podem nos levar à loucura ou à cura.
Vocês viram que são fortes, capazes e mais resilientes do que imaginavam.
Venceram o que achavam impossível no início.
Agora, chegando ao final e esperando a esperançosa vacina, teremos de nos organizar para retomadas de nossa dinâmica espiritual presencial.
Somos pessoas novas e começamos uma vida nova, mas juntos e com mais laços de amizade/ irmandade.
Mãe Maria Elise Rivas
Íyá Bê Ty Ogodô
Mestra Yamaracyê
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